A farmacêutica, Ana Helena Ulbrich, fundadora da NoHarm.AI e do Instituto de Inteligência Artificial na Saúde, foi a única brasileira incluída na lista TIME100 AI 2025, que reconhece as cem personalidades mais influentes do mundo no campo da inteligência artificial. O feito a colocou ao lado de nomes como Elon Musk, Mark Zuckerberg e Sam Altman, reafirmando não apenas a relevância da ciência nacional, mas também o protagonismo da farmácia clínica no cenário global.
Ana Helena destaca que o reconhecimento é resultado do trabalho de uma equipe dedicada a transformar a prática clínica e a segurança do paciente no Brasil. “É uma grande honra, mas não é um mérito individual. É reflexo de uma equipe fantástica unida pelo propósito de salvar vidas com o apoio da tecnologia”, afirmou. Ela recebeu a reportagem do ICTQ - Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico para uma entrevista exclusiva. Acompanhe.
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ICTQ - O que significou para você ser a única brasileira na lista TIME100 AI 2025, ao lado de nomes como Elon Musk e Sam Altman?
Ana Helena Ulbrich - Estar entre as cem pessoas mais influentes em inteligência artificial do mundo é uma grande honra. Esse reconhecimento não é individual, mas o reflexo de uma equipe fantástica que construímos na NoHarm.AI unida pelo propósito de usar a tecnologia para salvar vidas. E como a única mulher brasileira analista, eu sinto um imenso orgulho de representar o nosso país e de abrir espaço para que mais mulheres estejam na linha de frente da inovação e inteligência artificial.
ICTQ - Como farmacêutica, qual é a importância desse reconhecimento não apenas para sua trajetória pessoal, mas também para a valorização da profissão no Brasil?
Ana Helena Ulbrich - Como farmacêutica, esse reconhecimento em um cenário global reforça a importância do trabalho do farmacêutico, não apenas como executor de tarefas, mas como profissional estratégico, capaz de transformar a prática clínica, apoiar decisões e impactar vidas. Espero que inspire outros farmacêuticos a se engajarem na inovação e assumirem posição de liderança em tecnologia e saúde.
ICTQ - A NoHarm.AI nasceu para aumentar a segurança do paciente. Qual foi o ponto de virada que motivou você a criar essa solução?
Ana Helena Ulbrich - O ponto de virada foi a combinação da dor que eu via no dia a dia, com farmacêuticos sobrecarregados, afundados em trabalho repetitivo e com pouca segurança na tomada de decisão, e a oportunidade de contar com meu irmão, Henrique Dias, que estava fazendo doutorado em inteligência artificial para conseguir transformar essa realidade. Assim, a gente uniu a experiência clínica e a tecnologia para reduzir erros e liberar o tempo para o cuidado humano, salvando vidas de forma escalável.
ICTQ - O sistema já é usado para identificar prescrições fora do padrão e potenciais erros. Pode compartilhar algum exemplo concreto de impacto positivo nos hospitais?
Ana Helena Ulbrich - A NoHarm.AI aumentou a qualidade das avaliações clínicas, mudando o tipo de problemas relacionados aos medicamentos identificados nas prescrições e, consequentemente, o perfil das intervenções. Além disso, a gente comprovou um aumento significativo da eficiência. Então, na Santa Casa de Porto Alegre, o número de avaliações realizadas quadruplicou, aumentando a atuação do serviço de farmácia clínica na instituição.
ICTQ - O presidente do Conselho Federal de Farmácia destacou seu trabalho como motivo de orgulho para a categoria. Como você vê o papel do farmacêutico em meio às inovações em saúde digital?
Ana Helena Ulbrich - Eu vejo no farmacêutico um profissional-chave. Ele combina o conhecimento clínico, segurança medicamentosa e julgamento crítico. E com a ajuda da tecnologia, ele pode ampliar a sua atuação, antecipar riscos e apoiar decisões complexas. Em vez de substituir o farmacêutico, a tecnologia permite que ele dedique mais tempo ao cuidado direto ao paciente, tornando a profissão ainda mais estratégica e essencial no sistema de saúde.
ICTQ - Você reforça que a inteligência artificial não substitui o julgamento humano. Qual é o limite entre tecnologia de apoio e decisão clínica?
Ana Helena Ulbrich - O limite da inteligência artificial é simples. A decisão clínica final sempre deve ser do profissional da saúde. A inteligência artificial existe para apoiar, organizar as informações, antecipar riscos, apontar potenciais problemas, mas ela não substitui o julgamento, nem a sensibilidade do profissional diante do contexto de cada paciente.
ICTQ - A NoHarm.AI entrega soluções gratuitamente ao SUS. Quais são os maiores desafios e benefícios dessa integração com o sistema público de saúde?
Ana Helena Ulbrich - O maior desafio é atender muitos hospitais gratuitamente, mantendo a sustentabilidade do projeto. Mas os benefícios são enormes, conseguimos levar tecnologia avançada para o sistema público, aumentando a segurança do paciente, padronizando processos e permitindo que os profissionais da saúde se concentrem no cuidar. Essa integração mostra que é possível combinar inovação, impacto social e eficiência, beneficiando milhões de brasileiros.
ICTQ - Como foi a experiência de fundar o Instituto de Inteligência Artificial na Saúde e quais os próximos passos para essa iniciativa?
Ana Helena Ulbrich - A experiência de fundar o Instituto de Inteligência Artificial na Saúde foi muito rica, mas desafiadora. Assumir demandas gerenciais e estratégicas era completamente novo para mim, mas extremamente estimulante. Os próximos passos incluem continuar ampliando nossa atuação nos hospitais e, ao mesmo tempo, aprofundar o conhecimento sobre o nosso impacto na atenção primária, garantindo que a tecnologia beneficie toda a rede de saúde.
ICTQ - Sua formação farmacêutica influenciou de que maneira a construção da NoHarm.AI e do instituto?
Ana Helena Ulbrich - A minha formação farmacêutica foi fundamental para a construção da NoHarm.AI e do Instituto. Ela me deu profundo conhecimento sobre os medicamentos, segurança do paciente, processos clínicos, permitindo identificar, de forma precisa, os pontos críticos em que a tecnologia poderia fazer a diferença. E a experiência no Hospital Conceição também foi muito importante. Foram dez anos de experiência em farmácia clínica que ajudaram muito nessa construção de uma ferramenta que realmente traz um benefício para o dia a dia dos farmacêuticos.
ICTQ - Para o futuro: que papel a IA deve desempenhar na transformação da saúde no Brasil e como você se imagina contribuindo nesse cenário?
Ana Helena Ulbrich - No futuro, a inteligência artificial deve ser uma aliada estratégica na transformação da saúde do Brasil, ajudando a antecipar riscos, otimizar processos e apoiar decisões clínicas, sempre com foco na segurança do paciente. Eu vejo que o meu papel seria contribuir para que essa tecnologia seja aplicada de forma ética, explicável e inclusiva, ampliando a atuação dos profissionais da saúde e garantindo que os benefícios cheguem a todos os níveis do sistema, do hospital até a atenção básica, a atenção primária.
Qualificação farmacêutica
Para quem deseja se capacitar na área clínica, o ICTQ oferece alguns cursos de pós-graduação que devem interessar: Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica, Farmácia Clínica em Unidade de Terapia Intensiva, Farmácia Clínica em Cardiologia, Farmácia Clínica e Atenção Farmacêutica, Farmácia Clínica de Endocrinologia e Metabologia entre outros.
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