A Medley, braço de genéricos da Sanofi no Brasil, se tornou um dos ativos mais cobiçados da indústria farmacêutica nacional, e a disputa, que já envolvia oito empresas, ganhou novos contornos com o movimento estratégico e societário da União Química. Enquanto Cimed e EMS travam a batalha mais visível, a União Química entrou no processo sob dupla pressão: disputar a compra da Medley e, ao mesmo tempo, conduzir a venda de uma fatia minoritária da própria empresa, numa reorganização que pode movimentar até R$ 3 bilhões. As ofertas giram em torno de US$ 500 milhões, embora a Sanofi ainda sustente referência próxima de US$ 1 bilhão.
A Sanofi contratou o banco de investimentos Lazard para estruturar a venda da Medley, com faturamento projetado de R$ 1,3 bilhão em 2025 e Ebitda estimado de R$ 200 milhões. As fontes envolvidas no processo indicam que o valor negociado tenderia a ficar entre US$ 450 milhões e US$ 500 milhões.
As oito empresas com participação confirmada ou fortemente informadas como interessadas são:
• Aché
• Althaia
• Cimed
• EMS
• Eurofarma
• Hypera
• Torrent Pharmaceuticals (subsidiária indiana)
• União Química
EMS: proposta tornada pública
A EMS está preparada para oferecer cerca de US$ 500 milhões pela Medley, segundo reportagem do NeoFeed. Fontes afirmam que sua vantagem está em sinergias operacionais, como a proximidade da fábrica da Medley em Campinas (SP) com o parque industrial da EMS em Hortolândia (SP). A EMS indicou inclusive que não pretende eliminar a marca Medley, mas manter a concorrência interna de genéricos no varejo.
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Cimed: “vou brigar até o fim”
O CEO da Cimed, João Adibe, declarou que a empresa “vai brigar até o fim para comprar a Medley”. Ele ressalta que, com a aquisição, a Cimed poderia passar a fabricar perto de 1 bilhão de caixas por ano, combinando os volumes da Cimed com a planta da Medley — o que elevaria sua posição no mercado de genéricos. A Cimed afirma contar com parceiros financeiros para a operação, especialmente o fundo soberano de Singapura, que aportou cerca de R$ 1 bilhão no grupo.
Apesar de não divulgar formalmente um valor, a Cimed indica que buscará “condições semelhantes às da EMS”, o que o mercado interpreta como um lance também próximo a US$ 500 milhões.
União Química: disputa externa e tensão interna
Entre as interessadas, a União Química adicionou um elemento extra de pressão à disputa pela Medley. No mesmo momento em que figura na lista de possíveis compradoras, a companhia vive uma reestruturação societária relevante: o controlador Fernando Marques contratou o UBS BB para coordenar a venda de uma fatia minoritária da empresa.
A operação pode levantar cerca de R$ 1 bilhão em tranche primária e incluir outra secundária, envolvendo a venda das participações de suas irmãs. Marques continuaria no controle, mas o movimento evidencia uma reorganização estratégica justamente durante a disputa pelo ativo da Sanofi.
Fundos de private equity nacionais e estrangeiros, além de instituições como BNDES e IFC, participam das conversas. A União Química sinalizou disposição para vender entre 20% e 30% do capital, operação que pode movimentar R$ 2 bilhões a R$ 3 bilhões e avalia a empresa em mais de R$ 10 bilhões.
O processo reforça o interesse da companhia em ampliar sua presença no mercado de medicamentos sob prescrição e, ao mesmo tempo, fortalecer sua estrutura de capital para disputar a Medley com maior competitividade.
Rixa familiar?
Embora a disputa pela Medley pareça estritamente corporativa, ela carrega também um componente histórico: dois dos grupos envolvidos, Cimed e União Química, pertencem ao mesmo tronco familiar, a família Marques. A Cimed nasceu com João de Castro Marques, e hoje é comandada por seus filhos, entre eles João Adibe Marques e Karla Marques. Já a União Química foi adquirida em 1971 por João Marques de Paulo, e atualmente está sob o controle de seus filhos, entre eles Fernando de Castro Marques, ou seja: o fundador da União Química é irmão do fundador da Cimed.
Essa conexão cria uma dinâmica única: na geração atual, João Adibe, CEO da Cimed, é sobrinho diretos dos donos da União Química, enquanto seu tio comanda exatamente a empresa que agora disputa o mesmo ativo bilionário. Em entrevista, o próprio Adibe já afirmou que, somando os três ramos (o que inclui a Biolab, que não está na disputa), todas fazem parte de “uma mesma família dividida em empresas diferentes”.
Assim, a batalha pela Medley não mobiliza apenas forças de mercado, ela estaria reativando uma antiga rivalidade entre tios e sobrinhos, todos herdeiros do mesmo clã, agora posicionados em lados opostos de uma das maiores disputas já vistas no setor farmacêutico brasileiro.
Outras interessadas e cenário de disputa
Empresas como Aché, Althaia, Eurofarma, Hypera e Torrent ainda não tornaram públicos valores específicos. A mídia apontou que a Sanofi pede até US$ 1 bilhão, mas fontes de mercado estimam que o negócio deverá fechar mais próximo de US$ 500 milhões.
Cronograma da negociação
- 31 de outubro de 2025 — prazo para acesso aos dados financeiros da Medley.
• Segunda quinzena de dezembro de 2025 — apresentação das ofertas não vinculantes.
• Janeiro–fevereiro de 2026 — diligência e reuniões com finalistas.
• Março de 2026 — anúncio estimado da empresa vencedora.
• Ao longo de 2026 — análise e aprovação do CADE.
• Janeiro de 2027 — entrada oficial da nova controladora.
A planta de Campinas deve assumir cerca de 80% da produção após a transação, enquanto 20% permaneceriam na unidade de Suzano (SP).
Por que a Medley é tão cobiçada
O segmento de genéricos brasileiro segue em forte expansão: faturou R$ 20,4 bilhões em 2024 e superou R$ 14 bilhões apenas entre janeiro e agosto de 2025. A aquisição da Medley permite:
- Elevada escala de produção (300 milhões de unidades/ano).
- Complementaridade de portfólio e marca forte no varejo.
- Sinergias logísticas, industriais e comerciais em um segmento que premia eficiência.
Para a Sanofi, o desinvestimento se alinha à estratégia global de focar medicamentos inovadores e reduzir participação em linhas de menor valor agregado.
Implicações para o setor farmacêutico industrial
Para os farmacêuticos industriais, o desfecho dessa transação indicará os próximos passos da consolidação no mercado de genéricos no Brasil. A empresa vencedora levará escala, portfólio e estrutura industrial robusta, potencializando investimentos e competitividade.
A movimentação da União Química, por sua vez, expõe como fatores societários, financeiros e estratégicos podem influenciar diretamente o tabuleiro das aquisições no setor, elevando ainda mais a temperatura da disputa pela Medley.
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