Desafios que tiram o sono do gerente de produção da indústria farmacêutica

Para um gestor industrial farmacêutico, tão importante quanto planejar a estratégia da produção é implementar as ações definidas e alcançar os resultados efetivamente almejados. Executar o plano mensal de fabricação é uma demanda que tem de ser cumprida, mas existem problemas que podem atrapalhar sua concretização e que se não forem detectados e sanados em tempo hábil podem prejudicar o resultado final. Um dos fatores que podem impactar no cumprimento das metas é a quebra de algum equipamento que compõe a rota produtiva, atrasando a fabricação até que a máquina retorne às suas condições operacionais normais. Outro problema que pode ocorrer é a não chegada ou não conformidade das matérias-primas ou materiais de embalagens adquiridos. Isso pode ser resultado da quebra de equipamentos, embaraços alfandegários, problemas nas liberações das matérias-primas na Anvisa e até da falta de confiabilidade dos fornecedores.

“Hoje a indústria farmacêutica trabalha com aproximadamente 85% de matérias-primas importadas, o que pode comprometer os prazos de entrega dos medicamentos se tudo não funcionar perfeitamente. Para minimizar situações adversas a indústria tem trabalhado com políticas de estoques de produtos acabados, de forma a garantir o atendimento dos consumidores”, afirma Eliane de Lima Lenza, gerente de Produção da Vitamedic. Paulo Henrique, gestor industrial e consultor, com passagens por grandes laboratórios farmacêuticos, concorda que a gestão de estoque é fundamental e deve ser somada a outras soluções. “É importante atentar para uma manutenção preventiva efetiva e com forte atuação do planejamento e controle dessa área. Fazer uma análise Swot (ponderando pontos positivos e negativos) robusta e ter um backup dos colaboradores também pode contribuir muito”, sustenta.

Demanda comercial

Outro fator que tira o sono do gestor industrial é atender as demandas fora do plano mensal originadas pelo departamento comercial. Ou seja, o setor avança nas vendas e a produção tem que correr atrás para entregar, em muitos casos, em um tempo muito curto. “Os desafios são grandes, principalmente quando consideramos a dinâmica atual do setor comercial da indústria farmacêutica. Podem ocorrer ‘estouros’ de vendas de determinados produtos e a capacidade produtiva das linhas não consegue atender a demanda extra”, revela Paulo Henrique. “Para minimizar esses eventos indesejáveis são utilizadas ferramentas de gestão de estoques de alta performance, para visualizar a demanda diária, mensal e anual de cada produto, e produzir, além do plano mensal, um estoque mínimo necessário, atentando para as sazonalidades. Outra forma é a possibilidade de retirar alguns lotes do mês e encaixá-los na demanda extra, sempre avaliando o valor agregado dos produtos. Já se a demanda extra é originada de licitações, os produtos são priorizados para não haver atrasos na entrega, evitando assim, multas e sanções legais.”

“O ideal é que a produção não tenha demanda gerada fora do plano mestre de produção”, enfatiza Eliane de Lima Lenza. “Mas a realidade mostra outro cenário. Muitas vezes, a previsão da área comercial foge do cenário do mercado, demandando produtos além do previsto, por esse motivo é que as empresas têm trabalhado com políticas de estoque. Nessas situações, entram em ação os departamentos de planejamento e controle da produção e a própria área de produção e controle de qualidade, priorizando as demandas comerciais em suas linhas em detrimentos de outros produtos”, explica a executiva, lembrando que o lead time de produção gira em torno de 30 a 45 dias, dependendo da forma farmacêutica, e quando surge uma demanda extraordinária esse tempo deve ser reduzido, para que se consiga a liberação dentro do mês de faturamento. “Para que isso aconteça, verifica-se a necessidade de reprogramação das linhas de produção, otimização dos processos, acompanhamento e aplicação da ferramenta de controle de eficiência das linhas, como o indicador de eficiência global dos equipamentos, produção em linha, priorização das análises junto ao setor de controle de qualidade”, esclarece Eliane.

Rodrigo de Almeida Barros, gerente de Produção da Cifarma, pondera que essa situação ocorre em alguns casos porque determinadas demandas comerciais levam longos períodos de negociações e o departamento comercial não consegue incluir no seu planejamento de vendas algo novo ou incerto. “Pode ocorrer também a ausência do produto do concorrente no mercado, essa situação é imprevisível, fazendo com que a venda dispare no mês além do que estava previsto”, afirma, esclarecendo que “a melhor forma de conciliar essa situação é verificar se a oportunidade é viável para empresa, e se não irá impactar de forma prejudicial no planejamento anual, tanto comercial como de produção.”

Gestão da equipe

O gerenciamento do capital humano é outra preocupação constante dos gestores. É preciso fazer com que as pessoas estejam comprometidas e engajadas com os compromissos da organização. Em uma plenária realizada recentemente no ICTQ, a gestão dos recursos humanos foi uma das questões mais debatidas pelos executivos e consultores do setor farmacêutico. Tiago Freitas, gerente de Garantia da Qualidade da Brainfarma, do grupo Hypermarcas, destacou no evento que engajamento, capacitação constante do profissional e procura por mecanismos novos para solução ou antecipação de problemas são fundamentais. “Tecnologia de ponta, equipamento e instalações modernos não resolvem sem que o colaborador esteja bem treinado, disposto, envolvido e que saiba o que está fazendo”, revela “Outro ponto é fazer com que as pessoas trabalharem como um time em prol de um resultado definido, sempre respeitando as individualidades. Cada cabeça pensa de um jeito, o papel maior do gestor é conhecer cada um dos seus colaboradores e trabalhar suas competências para que saia um resultado final único”, afirma Freitas.

“Não adianta a companhia possuir alta tecnologia se o capital humano não está satisfeito e engajado”, faz coro Paulo Henrique. “O maior tesouro da empresa são as pessoas, que vão realizar as tarefas diárias para atingir os objetivos e metas estipulados pela direção. Temos que ter em mente que os colaboradores de todos os níveis possuem senso crítico e observam bastante o ambiente de trabalho e os benefícios que possuem ao laborar na empresa.” Eliane de Lima Lenza acrescenta que “para que possamos ter comprometimento das pessoas, é preciso envolvê-las com os resultados da organização e deixar claro o que a empresa espera delas. Estabelecer metas e monitorar resultados é algo intrínseco à produção, é necessário mais do que isso. Os colaboradores precisam ser motivados, a liderança tem que deixar claro a cada um qual a sua importância dentro do processo, fazendo elogios, valorizando as atitudes positivas e principalmente a eficiência.” Paulo Henrique sustenta ainda que os gestores devem entender o que é ser líder. “Liderar é um exercício que exige autoconhecimento e constante aprimoramento de habilidades e competências. Para obter o máximo dos assistentes em um ambiente de confiança e colaboração, o líder precisa entender como o seu estilo de liderança interfere no desempenho da equipe e na organização.”

Retenção de talentos

Um desafio constante dos gestores é atrair e principalmente reter talentos, sobretudo em tempos de alta rotatividade do mercado. Tiago Freitas lembra que a questão salarial não é a que mais pesa nessa hora. “O salário motiva por meses, não pela vida. É evidente que um mau salário desmotiva, mas ele não é o ponto central de uma carreira. As pessoas para serem motivadas têm de ter um objetivo, perceberem que estão crescendo, ganhando aprendizado. O conhecimento é um ponto chave.” De acordo com Eliane de Lima Lenza, a rotatividade ou turnover na indústria farmacêutica é alta porque “as novas gerações têm uma expectativa de crescimento profissional muito grande e acabam aceitando propostas com muita facilidade, almejando ascensão vertical na carreira em um curto espaço de tempo. Reter esses talentos não é tarefa fácil”.

“Como o setor é bastante competitivo, bons profissionais são bastante assediados pelas empresas concorrentes”, adiciona Paulo Henrique. “Profissionais talentosos só permanecem nas organizações quando estão satisfeitos e motivados. As razões da satisfação e motivação possuem características individuais e dependem de valores e desejos pessoais. Mas, em geral, alguns pontos comuns podem atrair talentos, como ter um bom ambiente profissional, valorizar os profissionais, desenvolver parcerias e convênios com faculdades e ter um plano de cargos e salários robustos”, frisa o consultor. “As indústrias farmacêuticas não podem trabalhar fora do contexto geral do mercado, ou seja, os salários devem ser compatíveis, o ambiente de trabalho deve proporcionar confiança e boas expectativas futuras de crescimento e modernização”, complementa Eliane de Lima Lenza. Tiago Freitas revela que para sair da empresa ou o profissional tem uma deficiência para atuar naquele ambiente ou ele quer trabalhar outras habilidades que a empresa não lhe dá oportunidade. “Mas é importante observar que oportunidade também se cria ou se está preparado para quando ela surge. Como se costuma dizer, a oportunidade é um cavalo selado que só passa uma vez”, diz o farmacêutico executivo.

Ampliar conhecimento é decisivo na carreira profissional. No entanto, analistas do setor revelam que alguns farmacêuticos não se destacam na busca de novos conhecimentos naturalmente, ficam muito presos na área técnica. “O profissional farmacêutico não tem o hábito de realizar atualizações. Falta inquietude, ele precisa pensar fora da caixa. Não é só seguir as regras da profissão, tem que ter atitude, explorar novos conhecimentos, ser intuitivo. Todos aqueles que buscam conhecimento multidisciplinar têm um ganho expressivo”, salienta Paulo Henrique, destacando que participar de treinamentos, cursos de aperfeiçoamento, cursos a distância, workshops, plenárias com órgãos reguladores, são ações bastante recomendadas para que os profissionais possam estar atualizados. “Ao mesmo tempo em que devemos ter profissionais multidisciplinares, precisamos de especialistas e o curso de pós-graduação é fundamental para isso, pois oferece amplo conhecimento de determinados assuntos”, diz Paulo Henrique.

O mercado exige cada vez mais do conhecimento multidisciplinar, por isso as pessoas precisam conhecer todas as áreas que envolvem na sua atividade, adiciona Rodrigo de Almeida Barros. “O curso de graduação direciona para o conhecimento específico, por isso algumas pessoas acreditam que o conhecimento técnico é suficiente para ele se tornar um excelente profissional. A falta de inquietude é da pessoa, por isso não está restrita apenas ao profissional farmacêutico. Hoje quem fica parado, não busca novos conhecimentos, achando que a graduação é suficiente para garantir seu futuro profissional está completamente enganado. Essas pessoas se tornarão mais um profissional comum com um diploma de curso superior”, salienta o gerente da Cifarma. Um currículo vazio mostra que a pessoa não foi atrás, que ela não tem um objetivo muito claro, adiciona Tiago Freitas. “O profissional que realiza uma pós-graduação indica para a empresa que ele fez um esforço a mais, se disponibilizou a perder um tempo do seu descanso para aprender algo novo. Além do que ganhou uma habilidade a mais que vai pesar positivamente para ele na carreira inteira.”

Gestor atuante

Estimular o profissional a buscar conhecimento é uma atribuição importante do gestor, revela Paulo Henrique. “Ele deve retirar o colaborador da zona de conforto, mostrando que é saudável tanto para ele quanto para a empresa realizar um aprimoramento intelectual. Em contrapartida, a companhia pode, por exemplo, recompensar o profissional que atualiza sua formação com a redução da jornada de trabalho”, diz o consultor. Já Eliane de Lima Lenza pondera que, em muitos casos, falta justamente o estímulo por parte das empresas. “Talvez falte um pouco de incentivo por parte da indústria, que poderia oferecer subsídios financeiros aos profissionais que desejam ampliar os seus conhecimentos”, diz a executiva. Para ela não falta inquietude aos profissionais farmacêuticos, pois o perfil de cada um varia. “Existem profissionais que executam rotineiramente atividades estritamente técnicas de laboratório e ficam muito presos aos conceitos adquiridos durante a graduação. Porém, há uma parcela de farmacêuticos que exercem cargos de chefia que buscam por atualizações, cursos de pós-graduação e até mesmo por disciplinas relacionadas à administração, visto que estão diretamente ligados à alta direção das indústrias.”

Recentemente, uma pesquisa com um grupo de estudantes de Farmácia sobre quais eram as áreas de maior interesse para se trabalhar revelou que a indústria farmacêutica é uma das mais citadas. Por que as pessoas querem atuar nesse segmento? “Os farmacêuticos têm procurado atuação no setor industrial devido às grandes possibilidades de ascensão e reconhecimento profissional que a área proporciona”, diz Eliane de Lima Lenza. Segundo a executiva, na indústria são várias as áreas de atuação do farmacêutico e todas refletem um grau de responsabilidade perante a sociedade e isso faz com que chame atenção do profissional para essa área. “O fato de o farmacêutico poder participar, por exemplo, de um projeto de lançamento de um produto no mercado é motivador e massageia o ego do profissional”, diz Eliane.

No caso dos estudantes, em particular, o fascínio em trabalhar na indústria farmacêutica está relacionado à criação de medicamentos. “A indústria farmacêutica se apresenta como um ambiente desafiador para os profissionais recém-formados, por ser o local onde ocorre a transformação das matérias-primas em medicamentos, com a finalidade de contribuir para a recuperação da saúde do paciente”, explica Rodrigo de Almeida Barros. Do ponto de vista da carreira, uma gama maior de possibilidades de ascensão, com vários setores com funções diferentes − regulação, produção, desenvolvimento, controle de qualidade, garantia da qualidade −, é um dos atrativos, segundo Paulo Henrique. “Isso faz com o que estudante opte pela função que mais tenha afinidade. Além disso, o salário inicial também atrai os que estão acabando de sair da universidade”, pontua.

Legislação

Para fechar o que tira o sono dos gestores da indústria farmacêutica, a questão das mudanças na legislação é uma das mais debatidas, porque sempre tem alguma novidade surgindo e ela impacta diretamente a produção. A fase de entendimento e aplicação inicial da norma é a mais complicada, segundo os executivos, e que exige maior capacitação dos profissionais. “Máquinas e equipamentos se modernizam trocando componentes. Já pessoas, não. Elas precisam de um tempo para conhecer a nova realidade, se adequar”, revela Tiago Freitas, lembrando que a demanda por profissionais capacitados em normas técnicas não para de crescer. Além do conteúdo das normas, a questão que mais gera inquietação está relacionada ao seu prazo de aplicação. “As edições de normas técnicas em que se aplica execução imediata ou curtos prazos de implementação têm exigido do staff das indústrias farmacêuticas uma agilidade fenomenal”, afirma Eliane de Lima Lenza.

Existem várias situações que precisam ser avaliadas antes de questionar se o prazo é suficiente, observa Rodrigo de Almeida Barros. Entre elas, se precisa de treinamento, requer investimento, exige mão de obra especializada e se impacta diretamente no processo produtivo. “A melhor forma de tratar essa questão é estar atualizado nas alterações propostas e não perder tempo em ficar discutindo se é necessário acatar a mudança ou se existe outra saída quando a questão já está definida e não existe questionamento que irá mudar a alteração implementadas nas normas”, acentua o executivo.

As empresas que se destacam pela agilidade e eficiência saem na frente, principalmente no que diz respeito à comunicação entre os setores internos. “Avaliando o cenário de mudanças percebe-se que é muito importante que haja uma integração e um sincronismo forte entre os departamentos, principalmente entre a cadeia de suprimentos, planejamento e controle da produção e assuntos regulatórios”, diz Eliane de Lima Lenza. Paulo Henrique assinala que a interação externa, com as entidades reguladoras, também é fundamental para que as melhorias dos processos sejam implementadas de forma coordenada e efetiva. “Reuniões semanais de avaliação de impactos, softwares gerenciais, integração do setor de assuntos regulatórios com os órgãos reguladores ajudam bastante, para que as novidades sejam discutidas e cumpridas dentro do prazo ou até mesmo antecipadas, quando a empresa possui um departamento de excelência operacional fortemente atuante com o setor de assuntos regulatórios”, finaliza.

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