Eu tenho uma mensagem para você que não apoia a nova realidade da farmácia no Brasil

29 de janeiro de 2017, foi uma data emblemática para a classe farmacêutica. O programa Fantástico – da Rede Globo – exibiu uma reportagem sobre a eficácia dos medicamentos genéricos produzidos no Brasil, ignorando por completo a existência e importância do farmacêutico no processo de informação e cuidado junto ao paciente. Não era para ser diferente! Meus colegas, em sua maioria, criticaram e reclamaram muito do que foi exposto e da forma como foi exposto, principalmente nas redes sociais.

07 de março de 2017, mais uma data marcante para o farmacêutico no meio jornalístico. O portal G1 – também da Rede Globo – publicou uma matéria sobre o que é, como funciona o consultório farmacêutico e como os serviços farmacêuticos vem sendo oferecidos nas farmácias. A matéria enalteceu exclusivamente o farmacêutico e sua importância na sociedade e ainda revelou o apoio da população indicado em pesquisas do ICTQ. A repercussão em toda a classe farmacêutica foi gigante. Mas adivinhem...meus colegas, muitos contrários ao consultório farmacêutico e atuação clínica na farmácia, criticaram e reclamaram também nas redes sociais.

Confesso que fiquei muito confuso. Se ignoram nossa profissão na imprensa, reclamamos – com razão – e esbravejamos palavras de ordem nas redes sociais. No entanto se a imprensa transmite a população a importância de nosso trabalho, alguns queridos colegas, reclamam, debocham e até xingam em resposta à matéria. 

Opinião cada um tem a sua, e eu respeito a opinião dos colegas que não estão de acordo com a nova realidade da farmácia brasileira. No entanto eu tenho uma opinião também! E quero deixar aqui, neste artigo, uma mensagem muito clara para quem não gosta, ou ainda, não acredita na farmácia como estabelecimento de saúde, com a atuação clínica do farmacêutico.

Selecionei depoimentos de alguns colegas farmacêuticos e farmacêuticas postados nas fanpages do ICTQ e do Portal G1, para posicionar meu pensamento em resposta aos mesmos:

1 – Farmacêutico se passando por médico

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Será que o acompanhamento farmacoterapêutico, identificação de interações medicamentosas e reações adversas, reconciliação de medicamentos, elaboração do plano de cuidado, prescrição de medicamentos ISENTOS DE PRESCRIÇÃO MÉDICA, dentre outras, são atribuições dos médicos?

Não vamos “dar um de médico”, tampouco praticar ilegalmente qualquer atividade que não esteja regulamentada pelo CFF.

O piso salarial é apenas o mínimo obrigatório a ser pago a qualquer farmacêutico. Porém cada profissional tem a escolha de realmente continuar ganhando o mínimo ou de fato se qualificar e demonstrar que o seu trabalho é importante, que traz retorno para qualquer empresa, principalmente financeiro, com a fidelização de clientes/pacientes através de um trabalho bem feito, pautado em conhecimentos e habilidades que serão adquiridos principalmente com muito estudo. Existe também a opção de ser um farmacêutico empreendedor, sendo esta, talvez, a melhor opção para ser um profissional bem-sucedido na carreira e nos negócios.

2 – Farmacêutico não pode usar estetoscópio

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O estetoscópio não é um instrumento privativo do médico ou enfermeiro. Para as atribuições clínicas do farmacêutico este instrumento é utilizado na verificação da pressão arterial, em conjunto com um esfigmomanômetro; na ausculta de sons oriundos do coração, pulmões e abdômen, que poderão ser analisados na semiologia farmacêutica.

Recomendo a leitura de um estudo de caso, ocorrido na Clinifar - Farmácia Escola do ICTQ, o qual aborda justamente a utilização do estetoscópio na atenção farmacêutica e seu resultado inquestionável. Segue o link: https://goo.gl/wYvCJQ

Creio que haja um total desconhecimento sobre qualquer utilização do estetoscópio e com todos os benefícios que as práticas clínicas e o consultório farmacêutico trazem para a sociedade e para a própria classe. Infelizmente os comentários desses colegas me causaram muita vergonha.

3 – Farmacêuticos apoiam as demandas do Conselho de Medicina contra a nossa classe profissional

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Acredito que o fato de a população não saber diferenciar e querer sair da farmácia com laudos e receituários tarja preta, não é pretexto para que continuemos na inércia ou ajamos com negligência, imperícia e imprudência. Cabe a nós farmacêuticos mostrar e educar a população sobre como e quais os serviços poderemos realizar nos consultórios, bem como os medicamentos que podemos prescrever e dispensar sem a exigência da prescrição médica. De fato, é uma excelente saída para desafogar a atenção básica, pois desde a Farmácia Popular e a Lei nº 13.021/2014 – que transformou a farmácia em estabelecimento de saúde – já enxergamos esta tendência. Quanto menos gente entupindo as emergências com problemas simples de saúde (autolimitados), melhor para o sistema público e melhor ainda para a saúde financeira das farmácias e farmacêuticos. A grande oportunidade e o desafio estão lançados!

Sobre o CRM tomar providências, realmente aqui se apresenta outro total desconhecimento sobre o assunto. Só para esclarecer, o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Médica Brasileira (AMB) tentaram por inúmeras vezes, tanto em esfera estadual quanto federal, pleitear a inconstitucionalidade e ilegalidade das Resoluções do CFF 585 e 586 de 2013. Todas as ações foram derrubadas. Tanto a sociedade civil quanto o judiciário entendem e são a favor de um serviço que só traz benefícios à saúde pública brasileira.

4 – A atuação clinica em farmácia representa mais trabalho - sem recompensas

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O principal foco da clínica e prescrição farmacêutica é obter os melhores resultados com a farmacoterapia e promover o uso racional de medicamentos e de outras tecnologias em saúde, através do atendimento realizado pelo farmacêutico aos pacientes, familiares e cuidadores, respeitando os princípios éticos e profissionais.

As vantagens são inúmeras: fidelização de clientes e consequente aumento no faturamento; desafogo na atenção básica e melhora na saúde pública brasileira; valorização do farmacêutico; oportunidade ímpar de ser um farmacêutico empreendedor para não depender mais de ganhar o mínimo oferecido pelo piso salarial. Com o advento da prescrição farmacêutica, de fato a responsabilidade deste profissional ficou ainda maior, obrigando o mesmo a se qualificar ainda mais, estudar, conhecer – pois só assim o respeito e reconhecimento se concretizarão.

5 – A prescrição farmacêutica pode atrasar o diagnóstico de um paciente

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Penso que a prescrição farmacêutica deve ser realizada com base nas necessidades de saúde do paciente, nas melhores evidências científicas, em princípios éticos e em conformidade com as políticas de saúde vigentes. Resumindo, o exercício deste ato deve estar fundamentado em conhecimentos e habilidades clínicas que abranjam boas práticas de prescrição, fisiopatologia, semiologia, comunicação interpessoal, farmacologia clínica e terapêutica. Esta ação está focada principalmente em transtornos menores ou problemas de saúde autolimitados.

Ressalto ainda que ao receber um paciente com sintomas de um resfriado – que propaga-se facilmente, geralmente diagnosticável e tratável pela própria pessoa, não exige exames laboratoriais ou de imagem, e cessa dentro de dias a semanas (autolimitada) – é preferível negligenciar e pedir para este paciente procurar um médico, ou é melhor assumir o papel de farmacêutico acolhendo-o e realizando todos os procedimentos, dentro de um ambiente adequado como um consultório, resolvendo de fato o problema que este paciente lhe confiou? Este é apenas um caso dentre vários que poderemos resolver na atenção básica e primária.

Não há contradição. O farmacêutico só prescreverá se de fato seguir todos estes critérios. Ademais, se este profissional identificar qualquer enfermidade que não seja autolimitada, deverá realizar o encaminhamento para um médico especialista para que seja realizado todos os exames pertinentes e o respectivo diagnóstico. É importante salientar que a prescrição farmacêutica não se resume apenas em terapias fármacológicas, mas também em não-farmacológicas como orientações sobre hábitos de vida mais saudáveis.

Os cursos de graduação em farmácia no Brasil realmente não preparam suficientemente o profissional às atribuições clínicas. Por isso, o farmacêutico não pode se resumir apenas à graduação. Este deve buscar conhecimentos especializados como as pós-graduações e cursos de atualização técnica. Todavia o MEC já colocou em consulta pública a proposta das novas diretrizes curriculares do curso de farmácia no Brasil. A proposta traz consigo o perfil do egresso pautado em três eixos: I – Cuidado em Saúde; II – Tecnologia e Inovação em Saúde; e III – Gestão em Saúde. Vale a pena ler o texto referência da proposta (clique aqui), especialmente as diretrizes sobre o Cuidado em Saúde, e participar da audiência pública.

Sobre a remuneração, isto já é uma realidade em muitas farmácias que possuem consultório e que já fazem a cobrança da consulta farmacêutica. Além dos consultórios independentes, os quais podem funcionar de forma autônoma, conforme previsto nas Resoluções do CFF 585 e 586 de 2013.

Minhas considerações finais

É importante salientar que a confiança da população na prescrição farmacêutica vem crescendo cada vez mais. De acordo com as últimas pesquisas do ICTQ, em 2014 esse índice era de apenas 42%. Em 2016 já é de 61%. Outro dado importantíssimo, principalmente para quem quer empreender e concretizar o seu consultório farmacêutico, 73% dos brasileiros preferem farmácias que possuem consultório para atendimento por parte do farmacêutico, e 81% acreditam que seus gastos com médicos vão se manter ou diminuir com a farmácia clínica.

Meus amigos e amigas, o consultório farmacêutico não é mais uma utopia ou uma estratégia a longo prazo. É o presente! E o tempo já está voando. Não deixem esta grande oportunidade de resgate à excelência profissional passar despercebida. Os consultórios, as práticas clínicas, dentre outros continuarão dividindo opiniões, principalmente entre os farmacêuticos e farmacêuticas. Todavia antes de encherem as redes sociais com um monte de reclamações e conceitos infundados, leiam mais, estudem mais, participem mais. Ninguém lutará por nossa classe, por melhorias e valorizações, se não for nós mesmos. Então vamos à luta!

Dr. Ismael Rosa, Farmacêutico Clínico, Especialista em Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica (ICTQ), Especialista em Vigilância Sanitária na Indústria Farmacêutica (ICTQ), Pesquisador, Gerente e Orientador de TCC. Atuou na Indústria Farmacêutica nas áreas de Garantia da Qualidade, Controle de Qualidade, Farmacovigilância e Meio Ambiente.

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