A prescrição farmacêutica em casos de doenças causadas pelo aedes aegypti

O ministro da Saúde, Marcelo Castro, assegurou que o Brasil está tomando todas as medidas necessárias para combater o mosquito aedes aegypti e a microcefalia. O detalhamento das ações do governo federal foi apresentado no final de fevereiro de 2016, durante a sessão de debates temáticos realizada no plenário do Senado sobre a situação do vírus zika no País. Castro descreveu ainda os recursos para prevenção e controle do mosquito aedes aegypti: os repasses federais cresceram 39% nos últimos anos (2010-2015), passando de R$ 924,1 milhões para R$ 1,29 bilhão. Para 2016, a previsão é de um incremento de R$ 580 milhões, uma vez que o valor chegará a R$ 1,87 bilhão. Além disso, foi aprovado no orçamento um adicional de R$ 500 milhões para o combate ao Aedes.

Frente a tão boas notícias divulgadas pelo ministro da Saúde, deve-se entender que tudo corre muito bem no que se trata do combate à epidemia das doenças causadas por esse mosquito, certo? ERRADO! O documento aponta que 4.107 casos suspeitos de microcefalia (supostamente causados pelo zika) estão em investigação pelo Ministério da Saúde e os Estados. Desde o início das investigações, em 22 de outubro de 2015, até 20 de fevereiro foram 5.640 notificações, sendo 950 já descartadas.

Contra fatos não há argumentos. Em 2015, um novo recorde: 1,6 milhão de infectados por dengue. Além disso, como todos já sabem, o mosquito passou a transmitir a febre chikungunya e, mais recentemente, também o zika. Em estado de alerta, a Organização Mundial da Saúde estima que o zika possa atingir entre 3 milhões e 4 milhões de habitantes das Américas, onde se espalha por vários países. É provável que o Brasil, considerado epicentro da epidemia, concentre 1,5 milhão de infectados.

Estatísticas à parte, tudo isso pouco importa para quem já sofreu com a doença. A vendedora do Taboão da Serra (SP), Alice de Moura, conta que, além dela, muitos familiares e amigos já contraíram a dengue na sua região. Ela conta que procurou o serviço de saúde, mas ainda não sabe exatamente se contraiu dengue mesmo ou outra doença causada pelo mosquito. “Eu tive febre alta, muita dor forte na cabeça, no corpo e nos olhos. Pensei que fosse morrer. Eu cuido da minha casa para o mosquito não chegar, mas meus vizinhos não cuidam. Aí não tem jeito!”, desabafa ela.

O farmacêutico neste contexto

Segundo a médica infectologista do Hospital Santa Catarina (SP), Driele Peixoto Bittencourt, dengue, zika e chikungunya são arboviroses transmitidas no Brasil principalmente pelo mosquito aedes aegypti. Nos últimos anos, o País registra um grande número de casos de dengue e, atualmente, com a chegada de duas novas doenças transmitidas pelo mesmo vetor, a preocupação é ainda maior. “Logo, todos os setores têm uma importante responsabilidade para disseminação de informações para a população. Mais do que uma unidade de tratamento, a farmácia tem um papel de acolhimento dos pacientes com suspeita da doença e também disseminação de informação sobre prevenção, por exemplo, o uso de repelente e controle de criadouros”. Portanto, ela defende que é essencial que o farmacêutico, como profissional de saúde, esteja atento aos pacientes que estiverem com sintomas, para alertar dos riscos e encaminhar à consulta médica.

O farmacêutico Genilson Márcio de Lima, da Farmácia Verde, em Lajedo (PE), entende que a farmácia, conforme a Lei 13.021/14, tornou-se um estabelecimento de saúde, podendo assim, ser uma unidade de tratamento das doenças transmitidas pelo aedes aegypti, contanto que essa farmácia tenha a presença do farmacêutico capacitado para isso. “O profissional farmacêutico clínico é capacitado em semiologia (sinais e sintomas) e deve realizar uma anamnese e estar munido de alguns exames laboratoriais (se necessário). Assim ele é capaz de identificar e prescrever medicação ou encaminhar o paciente para o hospital”.

O farmacêutico-bioquímico, Daniel Jackson Pinheiro Costa, é presidente do Conselho Regional de Farmácia do Estado do Pará (CRF-PA) e diretor Tesoureiro da Fundação Brasileira de Ciências Farmacêuticas (FBCF). Ele diz que o farmacêutico é, por dever e por direito, um profissional de saúde. Portanto, independentemente dos surtos virais ou endemias, a farmácia - enquanto estabelecimento de saúde - deve ser um espaço essencial de assistência farmacêutica e cuidado com o usuário. “Dessa forma, ao perceber que o paciente atendido pode ser portador de um destes quadros, devemos orientá-lo especificamente sobre todas as fases da doença, sobre a possibilidade da persistência dos danos, além do atendimento que ultrapassa as portas da farmácia, como a orientação a respeito dos sinais associados à gravidade e cuidados domiciliares”, fala ele.

O farmacêutico deve ser peça fundamental na orientação sobre os riscos da automedicação, bem como na prevenção de tais arboviroses. Essa prevenção é fomentada em atos cotidianos, quando se evita o acúmulo de água parada - criadouro do mosquito transmissor.

“Quando falamos de uma doença, o termo tratamento sugere uma série de etapas - incluindo a prevenção. Algumas pesquisas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já culminaram na criação de uma vacina contra a dengue, mas ainda em período de testes e, por essa razão, sem data prevista para início da imunização geral da população. Contudo, como somos o profissional mais próximo da sociedade, devemos desempenhar o papel de protagonista proativo e orientador da saúde, trazendo à tona a importância considerável dos aspectos preventivos dessas doenças, oriundas da falta de cuidado domiciliar e de saneamento básico”, dispara o especialista.

Importante ressaltar que os farmacêuticos estão presentes em tempo integral em todos os estabelecimentos farmacêuticos, oferecendo um serviço imprescindível à população. Tanto no sentido de orientação medicamentosa e assistência farmacêutica, como no sentido de cuidado com a saúde do paciente.

Como agir, na prática com a prescrição farmacêutica

A infectologista Driele afirma que é essencial que o farmacêutico esteja atento aos pacientes que estiverem com sintomas, para alertá-los dos riscos e encaminhá-los à consulta médica. “É importante a orientação sobre hidratação por via oral e principalmente a não utilização de ácido acetil salicílico (AAS) pelo potencial risco de sangramento”, alerta.

Ela lembra aos farmacêuticos que os medicamentos sintomáticos que podem ser utilizados para controle de febre e dor são dipirona e paracetamol, entretanto, o paciente deve ser encorajado a procurar um serviço de saúde para que seja avaliado seu risco de complicações, realização de exame físico adequado e coleta de exames laboratoriais, se houver indicação.

Os casos suspeitos que procuram a unidade de saúde são notificados, e essa informação é importante para a Vigilância Epidemiológica para posterior avaliação dos dados de infecção e possível implementação de medidas de controle e avaliação dos casos graves e óbitos.

Ela comenta que o espectro clínico da dengue, zika e chikungunya é bem variado, podendo se manifestar com diferentes sinais e sintomas. Portanto, os diagnósticos diferenciais são muitos, que podem ser desde infecções mais leves - como viroses respiratórias, influenza, mononucleose infecciosa - até quadros mais graves como leptospirose e meningites.

“A maioria das apresentações clínicas de dengue, zika e chikungunya acontecem de forma muita aguda, com resolução dos sintomas em aproximadamente sete a dez dias. A avaliação inicial do farmacêutico para orientação de uso das medicações, conforme orientação médica e não automedicação, é de extrema importância”, evidencia ela.

Já Lima avisa que há sintomas dessas doenças que são mais comuns e que podem ser confundidos, por exemplo, com gripe e amidalites. “Se considerarmos as dores nas articulações (normalmente relatadas pelos pacientes com doenças transmitidas pelo aedes aegypti), com ou sem edemas (inchaço), pode se tratar de várias outras doenças, como reumatismo, artrite, artrose, dores causadas por alteração do ácido úrico”, lembra o farmacêutico.

Em situação de suspeita de qualquer doença relacionada ao aedes aegypti, Lima diz que o farmacêutico pode prescrever, seguindo a RDC 586, além do paracetamol e da dipirona já mencionados pela médica, também a loratadina, vitamina C, castanha da índia (fitoterápico), proden (medicamento homeopático) etc.

Para o acompanhamento farmacoterapêutico de pacientes em tratamento de doenças transmitidas pelo aedes aegypti, Lima dá o exemplo do que ele próprio faz em sua farmácia: “Aqui realizamos um cadastro prévio com nome, idade, número de telefone celular, medicação utilizadas. Após 24 horas realizamos o contato com aqueles pacientes por meio de mensagens de texto (via whatsapp) ou por ligações para saber sobre seu estado de saúde após o início do tratamento, e como está indo sua adesão àquele tratamento”.

Atenção aos riscos

Costa diz que o farmacêutico é habilitado e capacitado para entender a aplicabilidade do medicamento às especificidades da cada endemia, evitando os possíveis riscos da automedicação, que pode ser fatal em qualquer uma das arboviroses. Por exemplo, a tradicional dipirona provoca trombocitopenia, o que significa, em termos coloquiais, a diminuição das plaquetas (células fundamentais na coagulação sanguínea). Logo, os pacientes com suspeita de infecção por arbovírus, que possuem como um dos possíveis sintomas a febre hemorrágica, devem evitar tal composto. Que, diga-se de passagem, é um dos mais usados no combate à dor e à febre. Outros medicamentos que devem ser evitados são os anti-inflamatórios não-estereoidais, como o ácido acetilsalicílico, o diclofenaco e a nimesulida. Esses anti-inflamatórios conhecidos da população podem também acelerar o processo hemorrágico oriundo da infecção por arbovírus.

“A população e os profissionais devem atuar em conjunto, não só no tratamento, mas também na prevenção. O farmacêutico, em suas mais de cem áreas de atuação, como um verdadeiro guardião da saúde pública, deve proteger e orientar todos os pacientes. A população deve consultar e confiar no farmacêutico, afinal, ele está ao lado do bem e da vida, participando do combate das arboviroses e salvaguardando a vida da população”, defende Costa.

Conheça a diferença entre os sintomas

De acordo com a infectologista do Hospital Santa Catarina (SP), Driele Peixoto Bittencourt, a identificação na farmácia de sintomas das doenças causadas pelo mosquito aedes aegypti deve se basear no seguinte:

Dengue: normalmente a primeira manifestação é a febre de início abrupto, que geralmente dura de dois a sete dias, acompanhada de dor de cabeça, dores no corpo e articulações, prostração, fraqueza, dor atrás dos olhos, erupção e coceira na pele. A identificação precoce dos casos de dengue é de vital importância para a condução correta do caso, visando principalmente a evitar a ocorrência de óbitos. Os principais sinais de alarme na dengue que podem ser observados clinicamente são: dor abdominal intensa e contínua; vômitos persistentes; hipotensão postural ou desmaio; sangramento de mucosa ou hemorragias importantes; sonolência e irritabilidade; diminuição da diurese; diminuição repentina da temperatura corpórea ou hipotermia; e desconforto respiratório.

Zika: cerca de 80% das pessoas infectadas pelo vírus zika não desenvolvem manifestações clínicas. Os principais sintomas são dor de cabeça, febre baixa, dores leves nas articulações, manchas vermelhas na pele, coceira e vermelhidão nos olhos. Em geral, a evolução da doença é benigna e os sintomas desaparecem espontaneamente após três a sete dias. Uma atenção especial deve ser dada às gestantes com suspeita de infecção, que devem ser encaminhadas imediatamente ao serviço de saúde. Recentemente foi levantada a relação entre infecção pelo vírus em gestantes e casos de microcefalia.

Chikungunya: os principais sintomas são febre alta de início rápido, dores intensas nas articulações dos pés e mãos, além de dedos, tornozelos e pulsos. Pode ocorrer ainda dor de cabeça, dores nos músculos e manchas vermelhas na pele. A duração dos sintomas é de aproximadamente dez dias. No entanto, há casos documentados em que a artralgia (dor nas articulações) pode persistir por anos.

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