O grupo Assaí Atacadista anunciou uma nova fase estratégica de crescimento que inclui entrada no segmento farmacêutico. Em apresentação aos investidores, o CEO Belmiro Gomes afirmou: “Estamos em um momento importante da nossa trajetória. A marca própria, as farmácias e os novos serviços financeiros são movimentos que nascem a partir da transformação do consumo no Brasil e de um entendimento único que temos do cliente”.
O Assaí, até agora reconhecido como líder do atacarejo alimentar, com mais de 300 lojas em 24 estados e Distrito Federal, decidiu dar o passo que muitos no setor farmacêutico consideravam tardio: ingressar no varejo de medicamentos e saúde. Como parte da iniciativa “Mundo Saúde”, a empresa lançou um projeto-piloto para instalar farmácias nas galerias de unidades selecionadas e, condicional à aprovação do PL 2158/2023 (que permitiria venda de medicamentos em supermercados com estrutura e farmacêuticos exclusivos), expandir para a área interna das lojas.
Para o setor farmacêutico, esse movimento representa um canal novo (ou ao menos ampliado) de comercialização e distribuição, com implicações tanto para o mercado de medicamentos isentos de prescrição (MIP) quanto, eventualmente, para o mercado de prescrição. A presença de um grande player do atacarejo entrando no segmento farmacêutico desafia a estrutura tradicional de distribuição, podendo alterar margens, volumes e dinâmica de negociação entre indústrias, distribuidores e varejistas.
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Impactos para o mercado farmacêutico
Para o setor farmacêutico, há várias dimensões a considerar:
- Volume e penetração: o Assaí afirma receber fluxo mensal de cerca de 40 milhões de clientes segundo a NielsenIQ Homescan. Isso significa que os fabricantes farmacêuticos que conseguirem acesso a esse canal poderão ganhar escala muito rapidamente, especialmente no segmento de automedicação, produtos de higiene e bem-estar e MIPs.
- Pressão de preço e marcas próprias: ao mesmo tempo que investe em farmácias, o Assaí está lançando marcas próprias: “Assaí” para consumidor final e “Chef” para o público pessoa jurídica, com promessa de qualidade entre marcas líderes e preços acessíveis. No ambiente farmacêutico, isso pode sinalizar que o varejista buscará também marcas próprias no setor de saúde, o que tende a pressionar margens das marcas conhecidas e exigir que os fabricantes reavaliem estratégia de portfólio, diferenciação e custo.
- Logística e distribuição: a entrada do Assaí no setor saúde coloca em foco sua estrutura de logística já consolidada no atacarejo alimentar. Para fabricantes e distribuidores farmacêuticos, haverá a necessidade de compatibilizar exigências regulatórias específicas (armazenamento, cadeia de frio, documentação, atendimento farmacêutico) com o modelo varejista de escala do Assaí. Isso pressiona a cadeia para se adequar ou para se associar com esse tipo de canal emergente.
- Varejo multidisciplinar e integração de serviços financeiros: o Assaí revelou que, além das farmácias, está ampliando seu ecossistema de serviços financeiros, o Assaí Pay, cartão de débito, maquininha para PJ, app Meu Negócio Assaí. Para o mercado farmacêutico, isso sugere ainda maior convergência entre varejo, distribuição, serviços e finanças, e potencial para novos modelos como venda digital integrada, programas de fidelidade de saúde, pacotes combinados (produto + serviço) e maior captura de dados do consumidor de saúde.
Posição estratégica e riscos
A estratégia do Assaí pode alterar significativamente o mapa competitivo do varejo de farmácias no Brasil. O fato de o grupo liderar o atacarejo alimentar, com forte capilaridade e poder de negociação, significa que ele entra com vantagem estrutural: escala, logística e fluxo de clientes. Porém, também existem riscos operacionais e regulatórios:
- A aprovação e implementação do PL 2158/2023 é condição importante para expansão dentro da loja. Sem ela, o canal poderá ficar restrito às galerias ou a formatos menores, reduzindo o impacto esperado.
- A operação de farmácias exige know-how específico (farmacêuticos, dispensação, regulação, especialização) diferente da operação alimentar; falhas na execução podem gerar risco reputacional ou regulatório para o varejista.
- Para os fabricantes, entrar com volumes altos pode levar a pressões que corroem margens ou inviabilizam determinados produtos, exigindo planejamento cuidadoso.
Assim, ao anunciar oficialmente essa nova frente, com marcas próprias, farmácias e serviços financeiros, o Assaí sinaliza que não vê mais o varejo alimentar isolado, mas sim um ecossistema integrado de consumo, saúde e serviços. Para o setor farmacêutico, é o momento de atualizar modelos de negócio, adaptar-se a canais de escala e questionar a própria cadeia de valor. O que antes era domicílio das redes tradicionais de farmácias agora recebe um competidor que já domina fluxo, logística e escala, e isso exige atenção, reação e estratégia clara por parte das indústrias e players de saúde.
A oportunidade para os farmacêuticos clínicos está em ocupar um novo espaço de cuidado dentro de um ambiente de varejo de grande fluxo, onde a presença desses profissionais pode qualificar a orientação ao paciente, ampliar serviços farmacêuticos e fortalecer o papel clínico em um canal que até agora não explorava plenamente esse potencial.
Capacitação farmacêutica
Para quem deseja se capacitar e atuar em Farmácia Clínica, o ICTQ oferece alguns cursos de pós-graduação que devem interessar:
- Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica
- Farmácia Clínica em Unidade de Terapia Intensiva
- Farmácia Clínica em Cardiologia
- Farmácia Clínica e Atenção Farmacêutica
- Farmácia Clínica de Endocrinologia e Metabologia
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