Cientistas analisam efeito da mistura de doses de vacinas diferentes contra Covid-19

Cientistas analisam efeito da mistura de doses de vacinas diferentes contra Covid-19

Estudos desenvolvidos em vários países investigam os efeitos da mistura de doses de vacinas diferentes contra a Covid-19. Dois deles foram publicados na Espanha e no Reino Unido, e há indicações de que quem recebeu doses mistas teve sintomas leves a moderados e de curta duração após a segunda dose, revelaram The Conversation e BBC. Anvisa não recomenda intercambialidade de imunizantes.

Segundo os cientistas Fiona Russell e John Hart, que publicaram um artigo sobre o tema no site de assuntos acadêmicos The Conversation, essas pesquisas são muito promissoras e sugerem que esquemas que misturam imunizantes podem fornecer níveis mais elevados de anticorpos do que duas doses de uma única vacina. Fiona Russell é pesquisadora, pediatra e epidemiologista da Universidade de Melbourne e John Hart é pesquisador clínico do Murdoch Children's Research Institute, ambos na Austrália.

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Em um dos estudos sobre a combinação de imunizantes, realizado no Reino Unido e publicado na revista científica Lancet, 830 adultos com mais de 50 anos foram escolhidos aleatoriamente para receber a vacina Pfizer ou Astrazeneca, primeiro uma e depois a outra.

Descobriu-se que pessoas que receberam doses mistas apresentaram maior probabilidade de desenvolver sintomas leves a moderados com a segunda dose da vacina, incluindo calafrios, fadiga, febre, dor de cabeça, dores nas articulações, mal-estar, dores musculares e no local da injeção, em comparação com aqueles que receberam vacinas da mesma empresa.

No entanto, essas reações foram de curta duração e não foram registrados outros problemas de segurança. Os pesquisadores adaptaram esse estudo para avaliar também se o uso precoce e regular de paracetamol reduz a frequência dessas reações.

Em outra pesquisa semelhante (ainda não revisada por pares) realizada na Espanha revelou que a maioria dos efeitos colaterais foram leves ou moderados e de curta duração – dois a três dias. Eles foram semelhantes aos efeitos colaterais de receber duas doses da mesma vacina.

Segundo os cientistas Fiona e Hart, o estudo realizado na Espanha tem demonstrado que as pessoas tiveram uma resposta de anticorpos muito maior duas semanas após receber o reforço da Pfizer, depois de tomar uma dose inicial de Astrazeneca. Esses anticorpos foram capazes de reconhecer e inativar o novo coronavírus (Sars-CoV-2) em testes de laboratório.

“Tal resposta ao reforço da Pfizer parece ser mais forte do que a resposta após o recebimento de duas doses da Astrazeneca, com base em dados anteriores do estudo”, salientam os pesquisadores no artigo. A resposta imune de receber a vacina da Pfizer seguida da Astrazeneca ainda não é conhecida, mas o Reino Unido terá os resultados em breve.

Não há dados ainda sobre a eficácia dos esquemas mistos para prevenir a Covid-19, mas é provável que funcionem bem, acreditam os cientistas. “A resposta imune é semelhante, ou até melhor, em comparação com estudos que utilizaram a mesma vacina na primeira e segunda doses”, apontam Fiona e Hart. “Isso indica que eles serão eficazes na prevenção da doença”.

Na Espanha, aqueles com menos de 60 anos que receberam a primeira dose de Astrazeneca podem escolher entre continuar com o mesmo imunizante ou receber a vacina da Pfizer. Embora o Ministério da Saúde recomende uma segunda dose de Pfizer, muitos optaram por ficar com a Astrazeneca.

“As descobertas recentes do mundo real no Reino Unido sugerem que, após duas doses, ambas as vacinas são igualmente eficazes contra as variantes que circulam nas Ilhas Britânicas”, dizem os cientistas. Recomendações sobre a troca de vacina em diferentes países se devem à preocupação com o surgimento de casos de trombose após a primeira dose da Astrazeneca, além da alteração das faixas etárias dos cidadãos que a recebem e problemas de abastecimento.

Isso gerou incertezas generalizadas e fez com que os jovens de alguns países europeus que já haviam recebido a primeira dose fossem excluídos da segunda. Os resultados desses estudos mistos sustentam a possibilidade de vacinar aqueles que receberam a primeira dose de Astrazeneca com um reforço diferente, se necessário. Outras pesquisas estão em andamento para avaliar os cronogramas de mistura e combinação entre as vacinas Moderna e Novavax.

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A vantagem de misturar e combinar vacinas pode também aumentar a flexibilidade dos programas de vacinação contra a Covid-19. “Ter um programa de imunização flexível nos permite ser ágeis diante das limitações de oferta global. Se houver falta de vacina, em vez de parar todo o processo para aguardar o fornecimento, pode-se continuar com uma vacina diferente, independentemente daquela que foi dada como primeira dose”, afirmam Fiona e Hart.

Ainda segundo eles, se uma vacina for menos eficaz do que outra contra uma determinada variante, esquemas mistos podem garantir que as pessoas que já receberam uma dose de uma vacina menos eficaz possam receber uma vacina mais eficaz contra a variante. Alguns países já estão usando esquemas vacinais mistos após alterarem as recomendações da vacina Astrazeneca devido à ocorrência de trombose como um efeito colateral muito raro.

“Vários países da Europa estão aconselhando os mais jovens que receberam esta vacina como a primeira dose a receber um imunizante alternativo como segunda dose. As vacinas mais indicadas para isso são as de mRNA, como a da Pfizer”, dizem os cientistas. Espanha, Alemanha, França, Suécia, Noruega e Dinamarca estão entre os países que recomendam esquemas vacinais mistos por esse motivo.

“É provável que o esquema de vacinação mude no futuro, pois podem ser necessários reforços. Isso é normal em programas de imunização. Já fazemos isso todos os anos com a vacina da gripe. Isso não deve ser visto como uma falha de política, mas sim como uma resposta baseada em evidências a novas informações”, concluem Fiona e Hart.

Anvisa não recomenda intercambialidade

Por enquanto, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não recomenda mesclar doses de diferentes fabricantes na imunização de pacientes contra a Covid-19. Segundo o órgão, ainda não há evidências de que a aplicação de doses de fabricantes distintos produza efeito contra o novo coronavírus.

“Anvisa alerta os profissionais de saúde e a população para que a administração da primeira e da segunda doses da vacina contra a Covid-19 seja realizada com vacinas do mesmo fabricante. Não existe, até o momento, informação sobre intercambialidade entre as vacinas utilizadas no Brasil, ou seja, não há dados que sustentem que a troca de fabricantes de vacinas entre a primeira e a segunda dose produza resposta imune ao Sars-CoV-2”, revelou a Agência, em comunicado divulgado em março.

Ela acrescenta que, caso uma pessoa receba doses de diferentes fabricantes na aplicação dada pelas equipes de saúde da sua cidade, deve procurar as autoridades (secretarias de saúde, Ministério Público ou o Ministério da Saúde) e denunciar o ocorrido.

Aos profissionais de saúde, a Anvisa orienta que registrem o caso no sistema e-SUS Notifica e para os fabricantes a ocorrência deve ser feita no sistema VigiMed, devendo ser ativado o sistema de farmacovigilância para o acompanhamento do caso, cujas informações devem integrar o Sumário Executivo e o Relatório Periódico de Benefício-Risco.

Também o farmacêutico deve alertar o paciente sobre a correta utilização da vacina. “O farmacêutico, como profissional de saúde que lida diretamente com o paciente, deve alertá-lo para que seja averiguada a marca no momento da aplicação da vacina, colaborando com o trabalho do profissional aplicador”, salienta o farmacêutico e professor da pós-graduação em Farmácia Clínica e Prescrição Farmacêutica no ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, Rafael Poloni.

“Até o momento, não há estudos definitivos sobre intercambiabilidade de vacinas contra Covid-19. Sendo assim, não é recomendada a utilização de diferentes marcas de vacinas em um mesmo indivíduo, conforme alertou a Anvisa em seu site, orientando pacientes, profissionais de saúde e fabricantes acerca do assunto”, conclui o professor do ICTQ.

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