A Polícia Civil do Rio Grande do Sul deflagrou, nesta segunda-feira (8/12), a Operação Aurora, uma ação que desmonta uma organização criminosa interestadual especializada no comércio clandestino de Cytotec (misoprostol) e no acompanhamento remoto de abortos.
A ação ocorre em parceria com a Diopi/Senasp, dentro do Projeto Impulse, do Ministério da Justiça.
Equipes policiais cumpriram mandados simultâneos em nove estados e no Distrito Federal. Até o momento, três pessoas foram presas, e drogas, celulares e documentos foram apreendidos.
Segundo a delegada Karoline Calegari, da Delegacia de Guaíba, a quadrilha mantinha uma estrutura organizada, com vendedores fixos, canais de atendimento e até grupos de “acolhimento” para mulheres que buscavam interromper a gravidez.
O grupo oferecia não só o medicamento, proibido para venda no Brasil, como também orientações on-line durante o procedimento, conduzido sem qualquer suporte médico adequado.
Receba nossas notícias por e-mail: Cadastre aqui seu endereço eletrônico para receber nossas matérias
O caso que levou à investigação
A investigação começou em abril deste ano, quando uma jovem de Guaíba procurou o hospital regional em estado grave, com dores intensas, e acabou expelindo dois fetos.
À polícia, ela relatou ter adquirido misoprostol pela internet após ser abordada em redes sociais ao pesquisar termos ligados a gravidez indesejada.
A mulher contou ainda que recebeu instruções detalhadas de uma suposta “doutora”, que deveria acompanhá-la por mensagem durante o aborto. No entanto, no momento crítico, passou a ser ignorada pela orientadora, sem qualquer tipo de assistência.
Ela também revelou ter sido adicionada a um grupo chamado “Sinta-se acolhida”, voltado para relatos pós-procedimento e troca de dúvidas entre usuárias.
A partir do depoimento, a polícia conseguiu identificar os administradores do esquema, espalhados por Paraíba, Goiás, Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Distrito Federal e Rio Grande do Sul.
Rede estruturada e lucro expressivo
A investigação aponta que o grupo vendia Cytotec e definia a quantidade de comprimidos conforme as semanas de gestação.
Os administradores eram os únicos autorizados a fechar vendas e acompanhar procedimentos. Mais de 250 mulheres estavam em grupos controlados pela quadrilha, indicando um lucro elevado.
A Operação Aurora pretende agora avançar na identificação de todos os envolvidos, mapear a origem dos medicamentos, já que o misoprostol só pode ser usado em ambiente hospitalar, e apurar a dimensão financeira da rede.
Segundo a delegada Calegari, a operação representa um marco no combate ao tráfico de medicamentos controlados.
“Trata-se de um crime que coloca mulheres em risco extremo, conduzido por pessoas sem qualquer preparo e movidas apenas pelo lucro. É uma atuação que ameaça a vida em todas as suas fases”, afirmou.
Participe também: Grupo de WhatsApp e telegram para receber notícias farmacêuticas diariamente




