O que você pensa sobre medicamentos em supermercados?

Na última semana um frenesi coletivo tomou conta das redes sociais farmacêuticas. Motivo: Michel Temer (MDB) afirmou na segunda-feira (7), no congresso da Associação Paulista de Supermercados (Apas) em São Paulo, que vai avaliar uma proposta de autorizar supermercados a venderem medicamentos isentos de prescrição médica (MIPs).

Bummmmm!!! Com esse pronunciamento o “presidente vampiro” deu o tiro que, mais uma vez, desencadeou um movimento de manada nos profissionais da nossa classe. Os gritos de que “supermercado não é farmácia” se tornaram tão estridentes como o já conhecido #ForaTemer. Mas analisem comigo... A falta de visão de futuro nos coloca numa discussão rasa sobre esse tema, que vez ou outra volta à superfície no cenário farmacêutico brasileiro. Que tal aproveitar essa oportunidade para encarar essa “possibilidade” de frente? Quem sabe a transformemos em uma oportunidade? E se um sopro de criatividade arrebatasse nossos representantes de classe, inspirando-os a mudar o rumo dessa discussão? Se trocássemos o “supermercado não é farmácia” pelo “medicamento em supermercado só com a presença do farmacêutico”?

Obviamente o interesse econômico é força motriz por trás da ideia, colocada pela Associação de Supermercados, de vender MIPs nos estabelecimentos de seus associados. Com a autorização da comercialização, os medicamentos isentos de prescrição seriam rapidamente alavancados à “categoria A” do mix de produtos dos supermercados, devido à grande demanda por estes medicamentos no Brasil. Mas não se engane! Para toda ação, existe uma reação. Se existe uma entidade que representa os interesses de supermercados, existem outras que representam os interesses das redes de farmácias. Estes últimos já apertaram o “botão on” da sua máquina de lobby, e na hora certa farão as articulações necessárias com parlamentares e membros do poder executivo, a fim de barrar essa proposta. Neste cenário quem está, sinceramente, defendendo o direito dos farmacêuticos?

Quando nos aprofundamos em qualquer discussão, deparamo-nos com interesses maiores. Quer um exemplo? No mês passado a seguinte manchete estampava a página da Agência Reuters: MEC barra abertura de novos cursos de medicina até 2023 e recebe duras críticas de instituições privadas. Se você sair do “raso” vai entender que a qualidade de ensino não é o problema. O que verdadeiramente está em jogo é manutenção da reserva de mercado para os médicos recém-formados. Aqui o lobby das entidades médicas venceu o das universidades particulares.

Já que falamos de reserva de mercado, aproveito para informar que essa não é a realidade da nossa profissão a muito tempo. Com a proliferação dos cursos de Farmácia em Instituições de Ensino Privadas e duplicação do número de vagas em muitas instituições federais (criação de cursos noturnos), cada vez mais farmacêuticos saem da faculdade, mas não chegam ao mercado. Aqui cabe uma regra básica de economia: se a oferta de empregos é menor que a disponibilidade de mão de obra, o resultado é uma queda brutal na remuneração dos trabalhadores (neste caso, nós farmacêuticos). O fato é, a cada ano que passa a balança farmacêuticos/oferta de emprego tende para o lado que não nos favorece. Se queremos defender nossa classe, temos que exigir que os profissionais de farmácia sigam o medicamento, e não o contrário. A presença de farmacêuticos no varejo supermercadista poderia gerar milhares de pontos de trabalho, ajudando a reequilibrar a equação da oferta/procura de empregos na área de farmácia.

Imagine um supermercado com uma área esteticamente diferenciada das demais. Ali estariam os MIPs, os suplementos alimentares, os cosméticos e uma “ilha balcão” com bancos confortáveis para o atendimento farmacêutico. Quem sabe uma sala de vidro no mesmo local, para atendimentos que demandem orientações mais complexas? Conheço uma rede de farmácias que vende de tudo, de pão a ração de cachorro. Estou falando da Araújo, uma rede com mais de 150 farmácias estabelecidas no modelo de drugstore em Minas Gerais e com mais de sete mil funcionários. Isso mesmo, a mais premiada rede do varejo farmacêutico mineiro é a idealização de um “supermercado com farmacêutico”. Qual seria o problema então de um projeto de lei que liberasse a venda de medicamentos em “outros” supermercados? Isso tornaria a concorrência mais leal, e a obrigatoriedade da presença do farmacêutico daria legalidade ao projeto. Se as entidades que representam os farmacêuticos são drasticamente contra a venda de MIPs no varejo supermercadista, que tal darem o exemplo e instruírem as farmácias a colocarem os medicamentos isentos de prescrição do lado de dentro do balcão? Percebe a distância entre o discurso e o exemplo?

Voltando à prateleira do supermercado, talvez você esteja pensando que a obrigatoriedade de contratação de farmacêuticos por parte destes estabelecimentos levaria ao fim o interesse pela venda de MIPs. Não se engane, existem sinergias ligadas à escala de vendas e à utilização do mesmo PDV (com o mesmo ponto de check-out), as quais dariam competitividade de preço para os MIPs vendidos em supermercados, mesmo que o estabelecimento precise ter farmacêuticos em sua folha de pagamento. Para que isso aconteça, e gere mais empregos, precisamos de lobby farmacêutico, não de lobby farmacista.

Por fim, após escrever este artigo me sinto exorcizado. Esse assunto realmente estava preso na minha garganta. Por anos vejo farmacêuticos levantarem bandeiras que não são realmente suas, muitos por inocência, outros por conveniência. Para que não reste nenhuma dúvida, para que ninguém use “trechos soltos” dessa coluna para despejar veneno nos comentários deste post, deixo meu grito registrado em caixa alta e negrito: “MEDICAMENTO EM SUPERMERCADO SÓ COM A PRESENÇA DO FARMACÊUTICO. ” O resto é conversa para boi dormir!

* Professor do ICTQ (Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico), Bacharel em Farmácia, Administração de Empresas e Ciências Contábeis. Atua como consultor em gestão de varejo farmacêutico e é autor dos livros “Gestão Estratégica para Farmacêuticos” e “A Arte da Guerra para Farmacêuticos”.

               

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