O Brasil terá 1º laboratório de máxima biossegurança, o nível 4 (NB4), da América Latina

O Brasil terá 1º laboratório de máxima biossegurança, o nível 4 (NB4), da América Latina

Orion será também a primeira unidade de biossegurança máxima no mundo conectada com uma fonte de luz síncrotron, o que destaca o país em meio ao preparo para as próximas pandemias.

O Brasil terá em breve o primeiro laboratório de máxima biossegurança, o nível 4 (NB4), da América Latina, capaz de manipular os patógenos mais perigosos conhecidos, como ebola, Marburg e sabiá. O Orion será construído no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), organização social vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), em Campinas, com cerca de 20 mil metros quadrados. A previsão é que a obra com as bases do complexo fique pronta em 2026, e o NB4 comece a operar até dois anos depois.

— É central ter todos os níveis de biossegurança presentes num país como o Brasil, principalmente se entendemos a questão da grande biodiversidade brasileira e o grande número de patógenos desconhecidos. É capacidade de fazer não somente pesquisa, mas os próximos passos necessários. Desenvolver diagnósticos, vacinas, antivirais e ter uma compreensão da atuação dessas doenças — afirma o diretor-geral do CNPEM e professor da USP, Antonio José Roque da Silva.

O projeto do Orion começou ainda em 2020, quando em meio à pandemia da Covid-19 o governo percebeu a importância de o país ter um NB4. Mas devido ao contingenciamento do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), a iniciativa caminhava a passos lentos. Agora, o laboratório foi contemplado pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal, e vai receber R$ 1 bilhão para sair do papel.

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— Se as pandemias são globais, infelizmente as capacidades de enfrentamento a elas dependem de estruturas nacionais, como vimos na distribuição de vacinas e de equipamentos com a Covid-19. A crise revelou como somos dependentes da importação de insumos e de instrumentos. Então ter uma capacidade nacional é primordial para preservar a vida e a saúde dos brasileiros — diz o secretário-executivo do MCTI, Luis Fernandes.

Hoje, existem apenas cerca de 60 unidades NB4 no mundo, a enorme maioria no Hemisfério Norte. As instalações são as únicas autorizadas a manipular vírus e bactérias classificados como de nível 4 devido a características como a alta letalidade, explica o virologista Edison Durigon, coordenador do Laboratório Klaus Stewien do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, primeira unidade a isolar o vírus da Covid-19 no Brasil.

— O nível 1 são vírus e bactérias que não causam doença. O 2 são os que causam, mas há tratamento e vacina para ela, como o sarampo. Já o 3 envolve aqueles sem imunizantes ou medicamentos, como o coronavírus no início. O mais alto, o 4, contempla patógenos que, além disso, têm letalidade maior que 60%, como o ebola, o Marburg, os vírus de febre hemorrágica, o Nipah. Os níveis têm a ver com a intensidade da segurança da estrutura para garantir que aquele agente etiológico não contamine os pesquisadores ou escape do laboratório — diz.

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No entanto, ele afirma que o Brasil está consideravelmente atrasado no que diz respeito à capacidade de lidar com esses agentes. Quando a Covid-19 surgiu, por exemplo, havia somente cerca de 7 unidades nível 3, o que, segundo o pesquisador, fez com que o país não conseguisse desenvolver suas próprias vacinas rapidamente.

Essas unidades ficaram sobrecarregadas, e o número de NB3 no Brasil cresceu para aproximadamente 27, mas somente devido à emergência. Por isso, o virologista defende que é preciso pensar em ampliar as unidades de NB4 antes que uma crise sanitária que envolva patógenos desse nível aconteça.

— Só os Estados Unidos têm mais de 10 NB4 em operação. O Orion é importantíssimo, vai ser um laboratório fantástico. Mas ele é um só, precisamos de mais nos maiores centros, Rio e São Paulo, e na Amazônia, onde muitas doenças infecciosas acontecem. Precisamos também de unidades dentro de hospitais, porque é onde chega a pessoa infectada — defende.

Ainda assim, a comunidade científica brasileira celebra o passo inicial dado a partir do investimento para construção do Orion. Especialistas citam que, com fatores como desmatamento e mudanças climáticas, a tendência é que cada vez mais habitats sejam degradados, e o contato com animais leve à disseminação de novos patógenos entre humanos, como ocorreu com o HIV, a Covid-19, o Mpox e cerca de 70% das doenças que emergiram nas últimas décadas.

— Precisamos estar preparados não só para detectar e estudar estes agentes, como desenvolver ferramentas para prevenção e tratamento. Isso demanda infraestrutura avançada e completa, não há mais espaço para improviso. Já temos evidências muito claras de que a emergência de novos vírus e outros patógenos deve ser uma tônica das próximas décadas do século XXI — alerta o virologista Fernando Spilki, da Universidade Feevale, no Rio Grande do Sul, coordenador da Rede Corona-Ômica, que sequencia os genomas do vírus da Covid-19 no Brasil.

“Se as pandemias são globais, infelizmente as capacidades de enfrentamento a elas dependem de estruturas nacionais, como vimos na Covid-19.

— Secretário-executivo do MCTI, Luis Fernandes

Vírus brasileiro poderá ser manipulado

 Um grande exemplo da falta que um NB4 faz no Brasil é o único vírus de nível 4 descoberto aqui, nos anos 1990, o Sabiá, causador da febre hemorrágica brasileira. Por não haver estruturas adequadas, todas as amostras para pesquisa são armazenadas no exterior. Embora extremamente raro, em 2019 dois casos foram diagnosticados em São Paulo.

— O sabiá é um vírus altamente patogênico, transmitido por roedores silvestres. Quando foi descoberto, o indivíduo começou a ficar doente e foi a óbito em 24 horas. Na época, não tínhamos um laboratório no Brasil NB4 para dar continuidade a essas análises, então enviamos amostras para os EUA e continuam lá. Temos institutos de pesquisa que queriam estudá-lo para desenvolver tratamentos, diagnóstico, mas não conseguem. Então o Brasil tem risco de ter uma epidemia de um vírus NB4, mas não tem como se preparar — explica Durigon.

Além disso, existem outros patógenos de nível 4 que causam febre hemorrágica e circulam na América Latina, como o Junín, o Guanarito e o Machupo, que poderão ser alvo de pesquisadores da região com o Orion.

— Sabemos que isso não somente tem uma importância regional, mas tem um risco para o próprio Brasil, porque é uma grande circulação de pessoas entre os países — lembra o diretor do CNPEM.

“O Brasil tem risco de ter uma epidemia de um vírus NB4, mas não tem como se preparar hoje

 — Edison Durigon, coordenador do Laboratório Klaus Stewien do Instituto de Ciências Biomédicas da USP

Tecnologia inédita no mundo

Além de ser inédito na América Latina, outro grande destaque do Orion é que ele será o primeiro NB4 do mundo conectado com uma fonte de luz síncrotron, por meio do acelerador de partículas Sirius, localizado também no CNPEM.

— O Orion terá algo que o distingue de todos os outros que é a possibilidade de conexão através de três linhas de luz com o Sirius. O acelerador já é de última geração, só existem três do tipo no mundo. Então é um gigantesco salto que estamos dando no desenvolvimento científico e tecnológico nacional — diz Fernandes, do MCTI.

Esse tipo de luz torna possível observar aspectos microscópicos dos materiais, como os átomos e moléculas, seus estados químicos e sua organização espacial. Além disso, permite acompanhar a evolução no tempo de processos físicos, químicos e biológicos que ocorrem em frações de segundo.

— Algumas das perguntas mais sofisticadas podem ser como os vírus controlam a célula, uma vez que eles invadem essas células, que alterações que eles causam nelas. Para gerar dados que cubram essa escala que vai da célula até o organismo, os síncrotrons são ferramentas quase imbatíveis, porque eles permitem fazer tomografias com grande rapidez e altíssima resolução — explica Roque da Silva.

Ele conta que uma linha de luz vai se especializar em imagens de células individuais. Vai permitir, por exemplo, observar com alta resolução uma célula infectada para entender que alterações ocorrem ali. Já a segunda vai cobrir a escala de tecidos e órgãos, assim como de insetos, o que é importante porque muitos são transmissores de doenças.

— Por fim, a terceira linha de luz cobre essa última escala que é a do organismo. Então você vai poder usar agora animais modelo, inclusive in vivo, e fazer experimentos, acompanhar a evolução da doença naquele organismo — finaliza.

As três linhas serão chamadas de Hibisco, Timbó e Sibipiruna, nomes inspirados na fauna e flora brasileiras.

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