Médico prescreve e indica farmácia para a manipulação de semaglutida.

A analista de projetos Mayara Moura, de 30 anos, procurou um médico nutrólogo com o objetivo de tomar Ozempic, em meados de 2023. O remédio à base de semaglutida virou febre na internet, atraindo não somente indivíduos com diabetes tipo 2, obesidade e sobrepeso — como prescreve a bula —, mas também pessoas sem comorbidades interessadas em perder poucos quilos.

Depois de assistir a vídeos no Youtube, a analista de projetos, moradora de Osasco, na Grande São Paulo, se convenceu de que o fármaco era para ela. Praticante regular de CrossFit, ela não conseguia controlar a alimentação e, por isso, não emagrecia.

Na consulta com o nutrólogo esportivo, Moura ouviu as opções: “Tem o Ozempic, o Saxenda [droga à base de liraglutida] e a fórmula manipulada. Eu já receitei o manipulado para o meu filho, e ele perdeu vários quilos”.

Como foi a experiência com a semaglutida manipulada

A analista de projetos, até então, não sabia da existência da semaglutida manipulada em farmácia: “Eu poderia ter comprado a caneta [original], mas o médico me passou confiança. Ele disse que custava metade [do Ozempic] e funcionava do mesmo jeito”.

A paciente, então, procurou uma farmácia de manipulação em São Bernardo do Campo, indicada pelo médico, e solicitou a fórmula de semaglutida. O remédio veio em uma ampola armazenada em uma embalagem com gelo, para manter a temperatura adequada. Seringas e produtos para higienizar a área onde a droga seria aplicada acompanharam a entrega.

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O atendimento da farmácia e a apresentação do produto impressionaram a cliente. “Eu me certifiquei da reputação da empresa na internet. É um laboratório top, não de fundo de quintal”.

Uma ampola durou cinco semanas. Moura encomendou mais uma, totalizando dez semanas de uso. No total, gastou 1.100 reais, Se tivesse usado a dose equivalente do Ozempic, teria comprado duas canetas e desembolsado aproximadamente o dobro.

A analista de projetos alcançou a meta desejada — perder 12 quilos — e ficou satisfeita com o resultado, relatando poucos efeitos colaterais: “Perdi a fome totalmente, mas eu tinha desarranjo intestinal. Eu chegava no CrossFit e tinha que correr para o banheiro na metade do treino”.

Moura postou sua história no TikTok, em um vídeo com mais de 780 mil visualizações e centenas de comentários. Alguns usuários da rede social compartilharam a mesma experiência, enquanto outros contaram que não conseguiram comprar o produto: “Precisa ter a receita indicada por um médico que tenha parceria com esses laboratórios. Eles [os laboratórios] são super cabreiros para vender para qualquer um”, diz Moura.

 

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A analista de projetos ouviu críticas também: “Algumas pessoas falaram que eu estava tomando qualquer outra coisa, menos Ozempic, porque aquilo não era semaglutida. Eu não sei quem está certo, quem está errado, mas eu confiei no médico. Acho que é muito de opinião, do quanto a pessoa decidiu se aprofundar naquilo”, diz.

Fabricante contesta uso da semaglutida manipulada

A semaglutida imita a ação do hormônio GLP-1, naturalmente produzido pelo intestino. Essa substância causa sensação de saciedade, estimula a produção de insulina pelo pâncreas e regula a glicemia.

Questionado por Marie Claire, o laboratório dinamarquês Novo Nordisk afirmou que detém até 2026 a patente da semaglutida, utilizada nos remédios Ozempic, Rybelsus e Wegovy.

“O princípio ativo semaglutida não foi desenvolvido, em nenhum lugar do mundo, para uso em formato injetável em frascos, cápsulas orais, pellets absorvíveis, chip ou mesmo disponibilizada em farmácias de manipulação, conforme tem sido divulgado e associado erroneamente aos medicamentos da companhia”, diz a nota enviada à reportagem.

A empresa desconhece a origem das matérias-primas e a forma de fabricação desses produtos: “A Novo Nordisk afirma que não fornece ou autoriza o fornecimento de semaglutida a nenhuma farmácia de manipulação ou outra fabricante”.

O laboratório alerta também que os medicamentos que têm a semaglutida como princípio ativo foram estudados e testados para o tratamento seguro de populações e patologias específicas: “Portanto, sua segurança está garantida apenas quando as moléculas registradas junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) são utilizadas conforme as indicações de uso apresentadas em bula”.

A farmacêutica ressalta ainda que “a importação, manipulação, fabricação e comercialização dos medicamentos e princípios ativos registrados pela companhia no Brasil, que não sejam nas apresentações originais de Ozempic®, Rybelsus® ou Wegovy® aprovadas pela Anvisa, é considerada um medicamento irregular”.

Segundo a Anvisa, medicamentos podem ser manipulados desde que haja avaliação de eficácia e segurança do insumo farmacêutico ativo, de acordo com a resolução RDC 204/2005.

"Ressalta-se que a individualização das preparações magistrais visando adequação às necessidades de cada paciente é premissa básica das farmácias de manipulação. Tal contexto está previsto na conceituação de preparação magistral da RDC 67 de 2007, desde outubro de 2007. Preparação magistral: é aquela preparada na farmácia, a partir de uma prescrição de profissional habilitado, destinada a um paciente individualizado, e que estabeleça em detalhes sua composição, forma farmacêutica, posologia e modo de usar", informa a agência, em nota.

Riscos de tomar a semaglutida manipulada

O farmacêutico Jamar Tejada explica que as farmácias de manipulação compram a matéria-prima e a transformam na fórmula prescrita pelo profissional de saúde.

“A farmácia de manipulação só poderá vender um medicamento se ele for comprado de distribuidoras de insumos farmacêuticos qualificados segundo as normas da Anvisa. Obviamente, as distribuidoras devem ter um laudo de análise passado por todos os critérios de qualificação [da agência]”, diz.

A pergunta que fica é: se a semaglutida é de uso exclusivo da Novo Nordisk, de onde vem o princípio ativo oferecido por outras empresas?

“Se é um produto que está sob patente e teoricamente não pode ser comercializado e manipulado, eu temo pela segurança e pela procedência desse produto”, afirma o endocrinologista Fabio Trujilho, professor de medicina da Faculdade Zarns – Salvador, vice-presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) e diretor do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).

“Eu não sou contra as farmácias de manipulação. As farmácias de manipulação têm a vantagem de pegar uma substância x, que é vendida comercialmente numa dose e colocá-la numa dose menor. Mas é diferente com um produto que pode ser manipulado”, atesta.

Sem saber a procedência da matéria-prima, é difícil estimar até mesmo quais são as consequências de seu uso.

“A primeira coisa que você questiona é: será que realmente é aquele produto? Será que não tem algum outro produto que não seja a semaglutida misturada àquela substância? Eu me sinto muito responsável pelas minhas prescrições e pelos meus pacientes. Eu não prescreveria algo que eu não tivesse certeza que fosse seguro.”

— Fabio Trujilho, endocrinologista

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