A RD Saúde, controladora das redes Raia e Drogasil, obteve autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para iniciar a produção e a comercialização de medicamentos isentos de prescrição (MIPs). A medida marca a entrada definitiva da varejista no mercado produtivo, abrindo uma frente que até então era ocupada exclusivamente por laboratórios industriais.
Há estimativas de que mais de 20 moléculas já tenham recebido a liberação para fabricação, com lançamentos programados para o início de 2026. A companhia pretende disponibilizar esses medicamentos sob a marca própria Bwell, até então restrita ao portfólio de vitaminas e suplementos nutricionais.
A iniciativa deriva de um projeto iniciado em 2023, quando a RD estruturou fornecedores, desenhou a cadeia produtiva, avançou nos protocolos regulatórios e testou sua primeira formulação: paracetamol. O objetivo declarado é ocupar parte do mercado de analgésicos, antitérmicos e outros MIPs de alto giro, reduzindo dependência de terceiros e ampliando margem operacional.
Para o setor, esse movimento representa mais do que diversificação de portfólio. Ele inaugura uma disputa inédita entre fabricantes tradicionais e um varejo que passa, simultaneamente, a ser concorrente e canal de venda. Vale lembrar que, sob o guarda-chuva do grupo, o montante de unidades já ultrapassa 3.300 farmácias em todo o país.
O que chega ao mercado em 2026
Entre os medicamentos aprovados para produção, estão diferentes apresentações de dipirona, associações com cafeína, citrato de orfenadrina e mucato de isometepteno, além de formulações de butilbrometo de escopolamina. Trata-se de classes terapêuticas amplamente consumidas, cuja dinâmica de mercado pode ser afetada por ajustes de preço, estratégias de exposição e políticas de marca própria adotadas pela varejista.
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Do ponto de vista sanitário, a transição exige atenção. Embora MIPs não exijam prescrição, sua produção segue rigorosamente as Boas Práticas de Fabricação (BPF), e a Anvisa mantém o mesmo nível de exigência técnica para qualquer empresa que deseje produzir medicamentos, independentemente de seu histórico corporativo no varejo.
O impacto sobre farmacêuticos e laboratórios
Para os farmacêuticos que atuam no balcão, o novo cenário coloca desafios concretos. Produtos de marca própria tendem a ganhar destaque nas gôndolas, muitas vezes acompanhados de políticas comerciais agressivas. O risco é a pressão por vendas se sobrepor ao critério técnico, especialmente em um contexto em que MIPs continuam exigindo orientação profissional qualificada para evitar uso inadequado.
Já para a indústria farmacêutica, o recado é claro: o varejo pode ocupar parte da margem industrial e disputar espaço nas categorias mais rentáveis. Isso tende a acelerar movimentos de revisão de preços, renegociação de contratos e ajustes logísticos, com impactos em toda a cadeia.
Regulação segue como eixo crítico
A autorização da Anvisa não significa flexibilização: ao contrário, a entrada de uma varejista na produção reforça a necessidade de vigilância sanitária sólida, rastreabilidade e conformidade técnica. A Agência, que nos últimos dois anos ampliou seu quadro e refinou processos de análise, terá papel central na supervisão da nova operação.
Para 2026, quando os MIPs da Bwell chegarem às prateleiras, o ponto de atenção será a capacidade da RD de sustentar qualidade industrial em larga escala, manter padrões uniformes entre fornecedores e garantir que o avanço comercial não comprometa a segurança dos consumidores.
A disputa que se abre não é apenas comercial. É técnica, regulatória e estratégica, e o farmacêutico estará no centro dessa transformação.
O avanço da RD torna a atuação farmacêutica ainda mais crítica porque aumenta a assimetria entre interesse comercial e responsabilidade sanitária. Caberá ao farmacêutico sustentar o equilíbrio:
- assegurar que produtos de marca própria não sejam empurrados ao paciente sem avaliação de indicação, risco e interação;
- reforçar educação em saúde em um ambiente potencialmente mais pressionado por metas;
- monitorar sinais de uso inadequado, automedicação e confusão entre marcas;
- registrar ocorrências que possam indicar falhas de qualidade ou segurança.
Com o varejo agora produzindo o que vende, o profissional técnico será a última barreira entre estratégia comercial e proteção à saúde, e essa função não pode ser negligenciada.
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