A atuação do farmacêutico clínico junto à saúde da população LGBTQIAPN+

A atuação do farmacêutico clínico junto à saúde da população LGBTQIAPN+

A farmacêutica, sanitarista e epidemiologista, Alícia Krüger, está à frente da Assessoria de Políticas de Inclusão, Diversidade e Equidade em Saúde do Ministério da Saúde (MS) e tem foco no cuidado farmacêutico com a população LGBTQIAP+, entre outras questões.

Ela afirma que existe uma problemática muito grande, principalmente, no que tange à população trans. “Há muitos anos venho dizendo isso, e, agora, nós conseguimos trazer a discussão de que o profissional farmacêutico é o primeiro a entrar em contato com as pessoas trans. Menciono isso porque a maioria desse público não tem acesso à saúde, seja pelo Sistema Único de Saúde (SUS) – tema que precisamos enfrentar e melhorar a cada dia – seja na saúde particular”.

Para ela, o primeiro lugar que essas pessoas procuram por serviços de saúde é, justamente, a farmácia, para pegar os hormônios ou outros medicamentos. “Eu até comprovei isso no meu estudo de mestrado, abordando 201 mulheres trans e travestis no DF, comprovando que 84% desse universo pesquisado se dirigia diretamente à farmácia, sem nenhum tipo de receituário, para comprar os hormônios”, relembra.

Logo, isso mostra a necessidade de o profissional farmacêutico estar munido de informações técnicas, mas, também, conhecer o acolhimento e outras tecnologias leves

para poder atender melhor a essa população. O conhecimento científico que essa tecnologia proporciona é muito importante para a melhor prestação da atenção farmacêutica e dos serviços farmacêuticos no geral.

Alícia é a primeira farmacêutica trans a atuar no Ministério da Saúde. Ela defende que, nos últimos anos, têm sido desenvolvidas tecnologias específicas para atender às necessidades da comunidade LGBTQIAPN+. Medicamentos, procedimentos cirúrgicos, exames e até mesmo processos de fisioterapia foram adaptados de forma excepcional para a população LGBTQIAP+, com destaque especial para as pessoas trans. Alícia menciona técnicas cirúrgicas refinadas e hormônios bioidênticos que têm revolucionado o cuidado a população.

“Os avanços biomédicos representam uma conquista significativa para a saúde e o bem-estar da comunidade LGBTQIAPN+. Essas tecnologias têm como objetivo fornecer opções mais personalizadas e eficazes, garantindo a qualidade dos cuidados de saúde e melhorando a vida das pessoas LGBTQIAPN+”, falou ela.

Conquistas fundamentais

A especialista ressalta ainda a importância desses avanços no processo de hormonização de pessoas trans adultas: “essas conquistas são fundamentais para promover a autonomia, o bem-estar físico e mental, além de contribuir para a construção de uma sociedade mais inclusiva e igualitária”.

No entanto, Alícia ressalta que, apesar dos avanços, ainda existem desafios a serem enfrentados, como a ampliação do acesso a essas tecnologias, a garantia de sua disponibilidade nos serviços de saúde e o combate à discriminação que muitas vezes limita o acesso aos cuidados. Para ela, os desafios encontrados, atualmente, concentram-se em duas frentes: o estigma e a discriminação. Alícia Krüger destaca:  “essas questões têm afastado pessoas LGBTQIAPN+ dos serviços de saúde, devido ao medo de sofrerem preconceito, além de dificultar a preparação dos profissionais de saúde nessa área de atendimento”.

A LGBTQIAPN+fobia, expressão que engloba a aversão e o preconceito direcionados à comunidade LGBTQIAPN+, representa também um desafio significativo. O receio de enfrentar situações de discriminação impede que muitas pessoas busquem os serviços de saúde de que necessitam. Alícia ressalta um paralelo entre a situação atual da comunidade LGBTQIAPN+ e a área do HIV, citando uma frase emblemática: "hoje não é mais o HIV que mata, mas sim o preconceito". Da mesma forma, não é a falta de assistência em si que causa danos, mas sim a discriminação que resulta em consequências fatais e afasta as pessoas dos serviços de saúde.

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A discriminação pode ser um obstáculo para a busca de cuidados preventivos, o acesso a tratamentos adequados e o suporte necessário à saúde física e mental das pessoas LGBTQIAPN+. Para reverter esse cenário, é fundamental que profissionais de saúde se capacitem e se sensibilizem para atender às demandas específicas dessa comunidade, garantindo um ambiente acolhedor e livre de preconceitos nos serviços de saúde.

“A luta contra o estigma e a discriminação é essencial para promover uma saúde inclusiva e equitativa para todos. A conscientização, a educação e a criação de espaços seguros são passos fundamentais para superar os desafios enfrentados no cuidado à comunidade LGBTQIAPN+. Somente assim será possível garantir que todas as pessoas tenham acesso igualitário e digno aos serviços de saúde, promovendo o bem-estar e a qualidade de vida para todos os indivíduos, independentemente de sua orientação sexual ou identidade de gênero”, refletiu Alícia.

Cuidado farmacêutico

Com relação às barreiras sociais e culturais que fazem a comunidade LGBTIAPN+ ser marginalizada do cuidado farmacêutico, a especialista afirma que “as barreiras sociais e culturais marginalizam a comunidade LGBTIAPN+ não apenas no cuidado farmacêutico, mas, também, em outros campos da saúde, como o médico geral e odontológico. O preconceito prevalece entre os profissionais de saúde devido à falta de disciplinas que abordem a diversidade nos cursos dessa área. A formação inadequada impede que aprendamos a cuidar das pessoas negras, com deficiência e não nos são ensinadas matérias sobre a diversidade humana. Isso compromete a qualidade do cuidado oferecido pelos profissionais de saúde”.

Leia também: A farmacêutica Alícia Krüger, do Ministério da Saúde, destaca a importância do farmacêutico clínico, nas políticas públicas para a saúde da mulher

A entrevistada destaca que, apesar do juramento de Hipócrates, muitos profissionais de saúde não conseguem deixar seus preconceitos pessoais de lado em sua prática: “infelizmente, mesmo com o juramento de Hipócrates - que eu brinco que não deve ser o juramento dos hipócritas, pois não é esse o juramento que fazermos - muitos profissionais não se dão ao luxo de deixar os seus preconceitos e preceitos pessoais a frente de uma prática em saúde”.

 Para a comunidade LGBTQIAPN+, os cuidados farmacêuticos ideais vão além dos procedimentos específicos. De acordo com a especialista Alícia Krüger, “o acolhimento nos ambientes das farmácias e o preparo dos profissionais para receber essa comunidade é fundamental”. Além disso, Alícia menciona a existência do Guia do Cuidado Farmacêutico da população LGBTQIAPN+, elaborado pelo Conselho Regional de Farmácia do Estado da Bahia, que abrange todas as ações que os farmacêuticos podem realizar para cuidar das pessoas LGBTQIAPN+. O guia inclui cuidados relacionados ao uso de hormônios por pessoas trans, acompanhamento farmacoterapêutico, orientações sobre exames de acompanhamento, acolhimento de mulheres lésbicas, homens gays e pessoas intersexo durante o atendimento farmacêutico.

Resultados importantes

Para finalizar, a entrevistada destaca alguns resultados importantes que merecem ser comemorados no cuidado farmacêutico da população LGBTQAPN+. Um desses resultados é o curso que está formando profissionais capacitados para cuidar melhor dessa comunidade. Isso significa que mais pessoas estão sendo preparadas para oferecer um cuidado adequado e de qualidade.

Além disso, é motivo de celebração “o retorno da prescrição farmacêutica de PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) e Pep (Profilaxia Pós-Exposição), que são estratégias de prevenção ao HIV. Essas medidas são fundamentais para proteger a saúde dos indivíduos LGBTQAPN+. Outro avanço significativo é a inclusão do nome social de farmacêuticas e farmacêuticos trans nas carteirinhas dos conselhos regionais de farmácia, o que demonstra um reconhecimento e respeito à identidade de gênero desses profissionais”.

A entrevistada destaca que o código de ética também abrange o respeito à identidade de gênero dos farmacêuticos, fruto de um trabalho de cerca de um ano e meio realizado pelo grupo de trabalho (GT) “essas conquistas são apenas o começo, pois há uma tendência de abertura de GTs LGBTQAPN+ nos conselhos regionais de farmácia em diversos estados, como São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e outros, o que fortalece o movimento e promete trazer mais vitórias no futuro” conclui.

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